Fisio volta a ganhar medalha, e Exatas fica fora do pódio apenas pela segunda vez desde sua fundação
Por Bruno Stocco
“Queremos formar uma dinastia no vôlei”, comemorou Luiz Gabriel | Foto: Mateus Batista
O Sesi Gravatás foi palco de disputas memoráveis pelo ouro e pelo bronze do vôlei masculino na Olimpíada UFU 2024. Os jogos ocorreram nos dias 9 e 10 e deram o primeiro ouro da modalidade para a Monetária. A Engenharia foi vice pela segunda vez seguida, enquanto a Fisio voltou a medalhar após o ouro em 2022. A atual campeã Exatas ficou com o quarto lugar.
Monetária - 1º Lugar
A quadra não tinha a mesma gravidade do resto do mundo. Os atletas que ali estavam, voavam sem medo de cair, eram os donos do céu. Como aves de rapina, os ataques eram certeiros, mortais. A velocidade para atravessar a quadra e balançar o braço. O olhar atento para um ponto frágil na defesa. As asas abertas durante o voo. Apenas detalhes da caça pelo ouro.
Essa era a sensação que toda e qualquer partida da Monetária passava. O espírito do Tamanduá estava presente, mas o mascote que tomou conta da equipe em quadra era diferente: um ser quase místico, que voava e só pousava com suas garras fincadas na quadra adversária. A busca deles não era por uma conquista qualquer, mas pelo seu alimento básico de sobrevivência. Os jogadores que se alimentam de ouro e nunca ganharam um. Esse peso sempre atrapalhou a plenitude das aves. Ou melhor, sempre incentivou a caça.
Os predadores do céu engoliram um Javali na primeira fase sem nenhum ferimento. Consumiram um Lobo nas oitavas, novamente sem retaliação. Nas quartas, até mesmo um Dragão de Três Cabeças foi alvo fácil. O Gorila também foi devorado sem o menor dos problemas. A Monetária passou por todos, Agrárias, Computação, Infernal e Exatas, sem perder um set sequer.
No fim, o que separava a ave do objetivo era um Leão. Normalmente, o segundo maior felino do mundo seria um adversário dificílimo. Mas quando os dois melhores jogadores do campeonato estão do seu lado, nada é impossível. O oposto e ponteiro Luiz Gabriel e o capitão Régis Junior brigaram partida a partida pela soberania em quadra.
Como diria o líder: “Juntamos o grupo e falamos que ninguém tira isso da gente esse ano. Para neutralizar nosso ataque, eles vão ter que jogar muito, a gente veio preparado”. O que era uma explicação da preparação se tornou uma premonição. O predador que voou a Olimpíada toda, continuou sem parar. Três jogadores fizeram mais de 10 pontos para a atlética de vermelho na final.
Nem mesmo os rugidos do leão e da torcida serviram como uma barreira. Novamente, a Atlética do Tamanduá iria se alimentar. “Eu conhecia o poder do nosso elenco, sabia que a gente era muito bom e que, na hora que fosse para a gente jogar o que sabe, ninguém ia parar”, contou Luiz.
O capitão da Engenharia, Samuel Rodrigues, concordou com as previsões: “O saque foi um dos fatores determinantes. Principalmente com o Luiz e o Tiago (Resende), eles conseguiram entrar mais no jogo e dificultar nossa vida”. Em um time com garras tão afiadas, é difícil destacar apenas um dos pontos ofensivos. Apesar dos desafios, o time aurinegro ganhou o primeiro set com nove pontos de vantagem.
Do segundo set para frente, a história foi outra. A Engenharia se tornou um felino que não conseguia lutar contra os golpes das águias vermelhas e azuis. Saques, bloqueios, ataques, tudo funcionou perfeitamente. A partida não foi fácil em nenhum momento, mas a briga já era outra: quem seria o melhor jogador? Na final foi Luiz, no campeonato foi Régis.
A virada durante o jogo foi tão surpreendente quanto o rasante de um falcão peregrino, a ave que alcança mais de 300 km/h quando ataca. O título tinha dono, só não se sabia quanto tempo ia demorar. Em 2022, a medalha foi de prata. Em 2023, tudo acabou com um quarto lugar. Dessa vez, finalmente o ouro. No entanto, uma das asas do time ficou pelo caminho.
No limiar da lágrima, existe a dúvida. As gotas salgadas correm por qual sentimento? Jairo Pereira poderia escolher algumas das respostas. A lesão durante a final entre Monetária e Engenharia foi um baque para seus companheiros. A força nos bloqueios e no ataque também era sentida, mas bem antes disso, o que passava pelos jogadores era a mais pura preocupação. No atendimento regado a lágrimas, elas duraram tanto quanto poderiam.
O prêmio também era dele, mais do que nunca. A tristeza e a dor que escorriam pelas bochechas de Jairo se tornaram a mais pura alegria. O título chegou. Durante a comemoração, os jogadores corriam e pulavam, enquanto ele observava sem conseguir segurar a emoção. No famoso “abaixa aê”, todos se reuniram em volta do camisa 55 para ele participar mesmo sem poder andar. A caça foi finalizada com sucesso, a Monetária era ouro depois de tanto bater na trave.
Resultados:
Primeira fase - Monetária 2 x 0 Agrárias (25 x 20 / 25 x 23)
Oitavas - Monetária 2 x 0 Computação (25 x 20 / 25 x 18)
Quartas - Monetária 2 x 0 Infernal (25 x 20 / 25 x 14)
Semifinal - Monetária 3 x 0 Exatas (25 x 22 / 25 x 15 / 25 x 20)
Final - Monetária 3 x 1 Engenharia (16 x 25 / 25 x 21 / 25 x 18 / 25 x 22)
Engenharia - 2º Lugar
Engenharia é maior finalista e campeã do vôlei masculino, com seis finais e três taças | Foto: Mateus Batista
Leão. O símbolo do orgulho e da honra. O rei da selva. Nas quadras, o posto que a Engenharia ocupa é parecido. Logo na primeira fase, derrubou a Artes com ataques e força invejáveis. Por ser finalista do ano passado, nem precisou participar das oitavas de final e avançou direto para as quartas contra a Moca.
Os peregrinos de Monte Carmelo foram o primeiro grande obstáculo. Os paredões ganharam o primeiro set e subiram cada vez mais alto contra os futuros engenheiros. Os muros pareciam altos demais para se escalar. Mas é nesses momentos que o Leão mostra porque é o rei. O capitão e levantador Samuel Rodrigues desmontou a parede como quem brinca com bloquinhos. Seus atacantes recebiam a bola em perfeitas condições para evitar o bloqueio.
Passe a passe, a Engenharia virou a partida e passou para a próxima fase. Até a atual Olimpíada, o vôlei masculino foi para 10 semifinais e conquistou três títulos nos registros oficiais (2014, 2015 e 2019), dois vices (2016 e 2023), três bronzes (2010, 2018 e 2022) e um quarto lugar (2017). Desde 2013, a equipe é certeza nas fases finais.
O décimo terceiro ano da Olimpíada UFU seguiu o padrão. Pela décima primeira vez em 13 oportunidades, o honrado Leão estava nas semifinais. O território era hostil para a Fisio, que sucumbiu perante o rei. Outra medalha garantida para a atlética aurinegra. Na final, como sempre, a Charanga foi dar fôlego para o Leão rugir ainda mais alto.
O batuque incessante fez o clima ser totalmente preto e amarelo. Os leões estavam à espreita para dar o bote no Tamanduá, que buscava seu primeiro ouro. Fellipe Diniz, Samuel Rodrigues e João Pedro Souza fizeram de tudo. Seus companheiros não ficaram para trás e jogaram com garra. “É um time muito unido, muito forte e equilibrado em todas as posições. Eu acredito na força desse grupo, é um grupo que tem evoluído muito e que só tem a crescer”, exaltou o capitão.
E foi essa força selvagem que conquistou o primeiro set da final. No entanto, o saque do adversário encaixou e derrubou a qualidade do passe da Engenharia, como disse Samuel. “A Monetária tem um grupo forte. É difícil destacar apenas um jogador. Hoje o Luiz, o Régis e o Jairo, no sufoco, jogaram muito bem”.
Foi por conta desses nomes que o Leão caiu. O ponteiro Fellipe voltou de lesão durante a Olimpíada e marcou 20 pontos na final. Mas as forças do rei sucumbiram perante o Tamanduá, que saiu vitorioso por 3 a 1. A Engenharia, no entanto, continua com sua dinastia de pódios e mais uma vez foi campeã geral. Perderam a batalha, mas ganharam a guerra.
Resultados:
Primeira fase - Engenharia 2 x 0 Artes (25 x 18 / 25 x 17)
Quartas - Engenharia 2 x 1 Moca (15 x 25 / 25 x 13 / 16 x 14)
Semifinal - Engenharia 3 x 1 Fisioterapia (25 x 19 / 25 x 18 / 24 x 26 / 26 x 24)
Final - Engenharia 1 x 3 Monetária (25 x 16 / 21 x 25 / 18 x 25 / 22 x 25)
Fisioterapia - 3º Lugar
“É um legado que tem que carregar, que a Fisio sempre medalha”, conta Lucas Cordeiro | Foto: Fernanda Pugliero
Toda a competição da Fisio tinha um único objetivo: conquistar o ouro, principalmente para quem sai do time. Logo na primeira fase, Vinícius Carrijo disse que “tem muita gente que vai se formar agora, esse campeonato é para todo mundo”. O sentimento coletivo da despedida impulsionou o time em todas as fases.
Contra a Computação, na primeira fase, a vitória veio com certa tranquilidade. Nas oitavas, contra a Agrárias, o time mostrou que podia se recuperar de uma desvantagem enorme. As partidas deram mais confiança para os jogadores, mas sempre com cuidado. “Ao mesmo tempo que cada vitória dá mais força, ela fica para trás”, disse o capitão Vinícius Sartori.
Nas quartas, tudo ficou mais difícil. A Educa era um dos times mais fortes do campeonato, e veio logo cedo para tentar derrubar o Crocodilo. Eles conquistaram o primeiro set e só nos últimos detalhes perderam o segundo. Assim, a confiança da Fisio voltou e eles engoliram o tie break. O destaque ficou com a atuação magistral de Sartori, que trocou o levantamento pela ponta.
A semifinal foi ainda mais cruel. Na vida animal, os crocodilos têm péssimo histórico contra os felinos. No vôlei, o resultado foi igual dessa vez. A pressão do Leão não permitiu que a Fisio jogasse como era acostumada. “Os dois primeiros sets foram muito abaixo do normal, não conseguimos rodar a bola”, contou Lucas Cordeiro. Mas os sets perdidos não controlaram o restante da competição.
As últimas duas parciais foram decididas pela diferença mínima de pontos e passaram dos 25 tradicionais. No fim, a derrota veio por 3 a 1. “O terceiro e quarto sets foram muito acirrados. Não ficamos tão tristes porque a gente sabe que foi no detalhe”, completou Lucas.
Verde e preto balançaram nas arquibancadas do Sesi. Sem descanso, os gritos eram uníssonos para homenagear o capitão Vinícius Sartori e sua “last dance”. Com uma distribuição de bolas incrível, todos os jogadores foram potencializados e mostraram porque o time sonhava com o ouro desde o início. O resultado não foi o esperado, mas a performance nunca deixou a desejar.
“Nós levantamos a cabeça, falamos que a gente queria levar esse bronze para casa e conseguimos”, finalizou Lucas Cordeiro, o melhor jogador da disputa de terceiro lugar. Com essa garra, Sartori se despede com o bronze. Para quem fica, a missão é manter os bons resultados e buscar o ouro novamente.
Resultados:
Primeira fase - Fisioterapia 2 x 0 Computação (25 x 18 / 25 x 10)
Oitavas - Fisioterapia 2 x 0 Agrárias (25 x 20 / 25 x 22)
Quartas - Fisioterapia 2 x 1 Educa (17 x 25 / 25 x 22 / 15 x 8)
Semifinal - Fisioterapia 1 x 3 Engenharia (19 x 25 / 18 x 25 / 26 x 24 / 24 x 26)
Terceiro Lugar - Fisioterapia 3 x 0 Exatas (25 x 14 / 25 x 17 / 25 x 19)
Exatas - 4º Lugar
Mudanças táticas ao longo do jogo aconteceram na semis e disputa de terceiro lugar da Exatas | Foto: Fernanda Pugliero
A campeã de 2023 surgiu como favorita novamente na competição. O time manteve bons resultados nos últimos anos. A Exatas é a maior campeã do vôlei masculino junto com a Engenharia, com três títulos (2017, 2018 e 2023). Desde que foi fundada, a atlética só ficou de fora das semifinais em 2022, quando terminou em quinto lugar.
O retrospecto era favorável, mas sem uma de suas estrelas, a equipe passou por novas dificuldades. Jhonatan Alves foi eleito o melhor jogador de vôlei da Olimpíada passada e não jogou na atual edição. Por outro lado, um novo grande jogador chegou ao Gorila: Enzo Tales. O “bixo” do curso de Matemática foi um dos que mais pontuou e melhor atuou em toda a competição.
Foi com a força desse novo atleta que a Exatas venceu da Aplicada com um voleibol de excelência. As oitavas foram uma semana extra de descanso, já que a equipe foi campeã do ano passado. Por conta disso, só voltaram para as quadras contra a Medicina em uma disputa acirradíssima nas quartas. Todos os sets tiveram menos de três pontos de diferença, e somente no tiebreak que o jogo se definiu a favor do Gorila.
O rugido guardado por um ano pedia para sair novamente. E ele tentou muito sair. Eli Carlos e Enzo deram aulas de ataque e levantamento nas semis, com ambos revezando as funções entre si ao longo do jogo. Mesmo assim, a equipe não conseguiu se manter no nível dos dois melhores do campeonato, Régis e Luiz, e acabou perdendo para a Monetária. “Foi uma ótima semifinal. Foi muito satisfatório mostrar que nós ainda podemos, dá um gás para continuar treinando”, ressaltou Eli Carlos.
Fora da final, o Gorila se inspirava para tentar manter uma medalha no peito, mesmo que mudando a cor. A partida contra a Fisio foi um grande reflexo disso. A disposição dos atletas era óbvia do início ao fim. O incentivo do capitão Nikolas Vulcão e as comemorações de Enzo Tales ditaram um bom ritmo para os rubro negros. Mas o destino, e o Crocodilo, foram cruéis com os atuais campeões que ficaram com o quarto lugar.
Uma mudança de estrelas significa uma mudança em todo o time. Uma perda como o Jhonatan seria sentida sem dúvidas, mas novos rostos podem transformar a equipe novamente. Para o ano que vem, é necessário adaptar e crescer com os ótimos jogadores que o time já possui. “Nosso time está se reconstruindo, uma mescla de experientes e novatos. Esperamos evoluir e chegar num nível mais alto nas próximas competições”, disse Eli Carlos.
Resultados:
Primeira fase - Exatas 2 x 0 Aplicada (25 x 12 / 25 x 9)
Quartas - Exatas 2 x 1 Medicina (25 x 22 / 24 x 26 / 15 x 13)
Semifinal - Exatas 0 x 3 Monetária (22 x 25 / 15 x 25 / 20 x 25)
Terceiro Lugar - Exatas 0 x 3 Fisioterapia (14 x 25 / 17 x 25 / 19 x 25)
Time do campeonato (de acordo com o repórter):
Levantador: Samuel Rodrigues (Engenharia)
Ponteiros: Régis Júnior (Monetária) e Fellipe Diniz (Engenharia)
Centrais: Vinícius Carrijo (Fisioterapia) e Jack Zhu (Monetária)
Oposto: Luiz Gabriel (Monetária)
Líbero: Guilherme Gomes (Exatas)
Melhor Jogador do Campeonato (DIESU): Régis Júnior (Monetária)
Colocação final:
1º - Monetária
2º - Engenharia
3º - Fisioterapia
4º - Exatas
5º - Infernal
6º - Moca
7º - Educa
8º - Medicina
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