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Jornada tripla: como estudantes conciliam vida na universidade, trabalho remunerado e treinos

  • Foto do escritor: Arquibancada UFU
    Arquibancada UFU
  • 30 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 21 de fev.

Dentre os desafios de ser atleta universitário está o de se dedicar ao esporte mesmo com uma rotina, muitas vezes, sobrecarregada. 


Por Carolina Longhi


Luciana Alves representou a AAA Medicina UFU no Festival da Federação Mineira em 2022. Foto: atletismo_medufu/Instagram (reprodução)


Segundo pesquisa do IBGE de 2023, cerca de 15% da população entre 15 e 29 anos tem vínculos empregatícios ao mesmo tempo que estuda. Esse dado evidencia a grande desigualdade social do país, mas não só isso, também deixa claro a situação de desamparo que essa parcela dos estudantes encontram. Contudo, mesmo enfrentando o desafio de fazer uma graduação, alguns discentes tentam equilibrar essa realidade movimentada com sua paixão pelo esporte. 


No cenário esportivo da UFU, é possível identificar três agentes principais: a Diesu (Divisão de Esporte e Lazer Universitário), as Atléticas e é claro, os atletas. Como braço da PROAE (Pró-Reitoria de Assistência Estudantil), a Diesu é responsável pela organização logística e burocrática necessária para a viabilização das atividades físicas dentro do contexto da faculdade. Por mais que a universidade valorize o esporte, ainda há muito o que melhorar. Mesmo assim, o contexto esportivo é protagonista na vivência universitária e o que não faltam são discentes motivados a dar o seu melhor para defender sua camisa.


Dentre esses agentes estão as Atléticas, responsáveis por boa parte da vida universitária, contribuindo com festas, competições e promoção da prática desportiva. Diversos alunos as vêem como uma oportunidade de lazer e de fuga de uma rotina monótona e cansativa. Como o estudante de História e estagiário na Biblioteca Santa Mônica da UFU, Rafael Fumero, descobriu seu amor pelo atletismo dessa forma. “Eu treinava apenas com a atlética, no máximo duas vezes por semana, era muito tranquilo. Mas, para deixar de ser sedentário, iniciei muitas modalidades e, após me apaixonar pelo atletismo, dediquei-me apenas a ele, com um volume de treino semanal alto”. 


Por outro lado, a rotina muito movimentada cobra o seu preço. O estudante de História  também relatou momentos que sentiu a sobrecarga desse estilo de vida. “Alguns momentos, o estresse do sistema nervoso é tão grande, por causa dos treinos somados à rotina, que a todo momento me sinto facilmente irritado ou esgotado. Sem contar que em casos de lesão, estirei a virilha, por exemplo, não conseguia nem trabalhar, nem estudar, nem treinar com qualidade, o que gera ainda mais estresse.” 


O ano esportivo da UFU tem como evento central a “Olimpíada UFU”. Em época de competição, as dificuldades aumentam. Luciana Alves, doutoranda em Ciências da Saúde e nutricionista no Hospital das Clínicas de Uberlândia, ressaltou: “Nessa época, bate mais o cansaço, a gente fica com mais dor, mais propenso a se lesionar. E o trabalho não para, né? Você tem que estar bem todos os dias. No meu caso, tenho que estar bem para atender os pacientes no hospital. Muitas vezes, eu ia trabalhar com dor, com sono, ficava extremamente cansada.”


Esses atletas evidenciam uma mentalidade de perseverança e, independente das adversidades, escolhem se desafiar cada vez mais. Diego, bombeiro militar e estudante de Ciência da Computação falou sobre isso: “Tudo que eu faço, eu me proponho um objetivo, uma meta. Algo que eu vejo distante mas alcançável e tentar chegar lá é o que me motiva a continuar. Isso vale tanto para os esportes quanto para os estudos. Eu quero ser bom no que eu faço.”


E no contexto profissional, esses desafios se mantêm? 


A falta de estrutura e apoio não está somente ligada ao esporte amador ou universitário, muitos atletas de nível profissional sofrem com isso. Ter que lidar com a sobrecarga da rotina também foi um desafio de mais de 30 representantes do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio 2020, enquanto cerca de 131 outros não tinham patrocínio e se sustentavam com menos de um salário mínimo. Em entrevista para o Globo Esporte, o atleta destaque da marcha atlética Matheus Correa afirmou não conseguir se sustentar através do esporte. “ Eu estava contando com o Bolsa Atleta para pagar o aluguel e outras contas, só que acabou atrasando bastante. Era para o benefício ser renovado em abril, mas só foi entrar novamente em junho. Foram meses bem difíceis. Então, passei a fazer fretes. Levava geladeira, fogão, o que cabia na caminhonete. E começou a ficar cansativo, porque exige muita força física”, recorda. 


Se torna inadmissível um país que ganha vinte medalhas numa campanha olímpica não ter estrutura para fornecer aos seus atletas o mínimo de condição para exercerem suas modalidades. É nítido o descaso do Estado quando o assunto é esporte, desde atletas amadores, universitários ou profissionais, a falta de suporte é geral. Além do mais, histórias como a do Matheus são vistas por muitos com olhos de superação, enquanto deveriam ser encaradas com sinal de alerta. Em outro enfoque, há a vivência daqueles alunos que adicionam ao seus cronogramas lotados à prática desportiva. Para um país que tem Ayrton Senna, Pelé, Guga Kuerten, Maria Esther Bueno, entre outras referências mundiais de alta performance, o descaso com a área esportiva é um desrespeito com seus legados. O esporte, seja nas principais arenas do planeta, ou nos ginásios das universidades, deve ser respeitado e, acima de tudo, reverenciado por todos os seus benefícios.


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