Uma década após o último título, Atlética do Leão volta a ganhar a medalha de ouro na modalidade da Olimpíada UFU. Educação Física e Moca completaram o pódio
Por Felipe Domingos
O período de seca da Engenharia UDI no basquete masculino na Olimpíada UFU chegou ao fim no domingo (8). Finalista de quatro das últimas sete edições, a equipe não conseguia vencer a partida mais importante do campeonato, a final, desde o título de 2013. Única atlética presente em todos os pódios da era moderna da Olimpíada (desde 2009), a Engenharia bateu a Educação Física e chegou ao seu quarto título.
Porém, a história dessa final não começa no sábado, quando foram definidos os finalistas, mas sim em 26 de Novembro de 2022, mais exatamente na final da modalidade no ano passado.
26 DE NOVEMBRO DE 2022 - 11h
Após duas edições (2018 e 2019), Educação Física e Engenharia voltaram a realizar uma final do basquete masculino. A rivalidade no esporte é tanta que das dez finais que ocorreram até aquele momento, quatro delas foram protagonizadas pelas duas atléticas, com duas vitórias para Engenharia (2009 e 2010) e duas para a Educa (2015 e 2017).
O reencontro das duas atléticas poderia marcar o quarto título da Engenharia que não ganhava desde 2013 empatando com o rival, ou o quinto título da Educa nas sete edições anteriores.
26 DE NOVEMBRO DE 2022- 13h
“Eu ia chegar e bater na Engenharia. Nunca perdi na minha casa para os ‘amarelinhos’. Está doido? Hoje é o nosso dia”, disse o técnico da Educa, Aran Silva, ao final do cronômetro da final de 2022.
A partida que durou quase duas horas foi um balde de água fria nos atletas e na comissão técnica da Engenharia. A equipe havia dominado o primeiro quarto e parecia que seguiria assim até o fim. Porém, após ver o empate no segundo e a virada no terceiro período, a equipe não conseguiu mais estar a frente no placar.
Além da derrota na decisão da Olimpíada passada, a imagem de choro do principal jogador da competição, Alessandro Gabriel, que desperdiçou os lances livres que poderiam dar o título a atlética e que havia perdido ali a sua segunda final consecutiva, chamou a atenção.
2023
Após a derrota na Olimpíada, a Engenharia começou o ano de 2023 focado na Copa Inter Atléticas (CIA). Campeã de todas as edições, o Leão foi em busca de mais um título da competição, e não foi diferente. A atlética conseguiu sua sétima conquista, e, no basquete, a entidade se sagrou tricampeã seguida, após vencer a UFSCAR na final por 65 a 55.
OLIMPÍADA UFU 2023
Focados na Olimpíada UFU 2023 e com quatro meses de treino depois da CIA, a Engenharia tinha a missão de voltar a comemorar o título do basquete. A Educa, por outro lado, teve meses de descanso por não disputar a Copa Inter Atléticas.
Graças ao desempenho em 2022, as duas atléticas garantiram uma vaga direta nas oitavas de final, uma de cada lado do chaveamento. Nessa fase, as duas equipes enfrentaram times vindo da repescagem.
“A meta é ser campeão do campeonato e levar a Educa de novo ao topo”, disse Thiago Sobon após vencer a Artes. O jogo marcou a maior vitória de uma equipe na competição, 101 a 24, e a maior pontuação individual de um jogador, sendo 38 pontos por conta de Sobon.
Do outro lado, a Engenharia vencia seus xarás de Ituiutaba por um placar menor, já que sofreram os mesmos 24 pontos do rival, mas anotaram 75 para vencer a partida. A expectativa de Alessandro era a mesma dos anos anteriores: “A gente tem sim o mérito de ter disputado duas finais, em duas edições consecutivas, isso mostra que nosso trabalho tem sido bem aplicado, porém, talvez, esteja faltando um capricho, um melhor aperfeiçoamento na hora de concluir, de fato, o jogo que é o mais importante: a final”.
Nas quartas, tanto Educa quanto Engenharia pressionaram a saída de bola de seus adversários, os sufocando na defesa. A estratégia fez com que eles sofressem menos de 10 pontos: o Leão venceu a Med por 72 a 3, e o Cachorro venceu a Fisio por 77 a 9.
Só restou a cada uma das atléticas ganhar seus jogos da semi para se enfrentarem na grande final. No sábado (7), as quatro atléticas classificadas - Moca e Exatas, além das duas já citadas - se enfrentaram.
Educa 58 x 38 Moca - semifinal
Às 11h, foi a vez da Educa contra a Moca. A atlética de Monte Carmelo, liderada por Pedro Augusto, tentou de tudo para vencer o jogo, e até o segundo quarto se manteve encostada no placar, perdendo por apenas cinco pontos.
A dona da casa contou com alguns bons pontuadores durante a partida, mas a estratégia de marcação individual de Marcelo Augusto em Pedro foi a chave para a Educa disparar no placar. O armador da Moca, José Romero, responsável pela maioria dos pontos da atlética no partida, ainda foi ejetado após duas faltas técnicas.
Com os dois principais jogadores “fora” de jogo, a Moca viu a Educa tomar cada vez mais a vantagem no placar, com destaque para Alexandre Rafael, maior pontuador da partida com 16 pontos. Após o apito final, com a vitória por 58 a 38, o jogador desabou em choro e foi acudido pelos colegas que gritavam seu apelido “P1, P1, P1”.
“Eu fiquei bastante emocionado. Eu estou há um ano aqui treinando e eu joguei contra meu irmão também, então foi muito especial e gratificante. Eu gosto muito daqueles caras ali. Eu sou de Monte Carmelo, eu conheço todos os caras, e é muito legal jogar com eles. Eu tenho muito respeito por todos porque todos me ajudaram", relatou Alexandre.
O irmão gêmeo de Alexandre é Francisco Rafael de Oliveira, armador que jogou as duas últimas edições da Olimpíada pela Moca. “Eu tento esquecer (que é meu irmão), porque, independente de tudo, a gente está no jogo, mas esquecer não dá, até porque a gente é irmão gêmeo, sempre vivemos juntos, nascemos juntos. Então, nosso laço é muito forte. Mas se for para jogar um contra o outro, a gente marca um ao outro forte. Não tem desculpa nessa hora”
Classificado, Alexandre foi questionado sobre quem gostaria de enfrentar na final do dia seguinte e ele não hesitou. "A Engenharia, até porque a gente saiu vitorioso no ano passado. Ia ser muito caloroso. Isso aqui ia encher muito, ia ser muito bom".
Engenharia 49 x 36 Exatas - semifinal
Mas para essa final pretendida por Alexandre acontecer, a Engenharia precisava ganhar seu jogo também. Logo após o final da primeira semi, foi a vez da atlética preta e amarela jogar contra a Exatas, que contava com o cestinha da competição, Jhonatan Alves Silva. A Exatas saiu na frente com uma cesta do pivô Jairo Pereira, mas de cara a Engenharia se impôs no jogo e tomou a vantagem.
Após um primeiro quarto muito equilibrado, a Engenharia começou a marcar pressão e tornou o jogo cada vez mais difícil para a Exatas, que viu a desvantagem crescer cada vez mais. Mesmo com a estratégia, Jhonatan marcou 19 pontos, mas não foi o suficiente para evitar a derrota por 49 a 36.
08 DE OUTUBRO DE 2023
Moca 63 x 41 Exatas - Terceiro lugar
Antes da final, Moca e Exatas fizeram o jogo valendo o terceiro lugar. Em uma partida pouco inspirada dos jogadores da Exatas na defesa, a Moca se manteve na frente do placar do início ao fim. Nem mesmo a treinadora Isadora Augustin, que geralmente é bem agitada no banco de reservas, parecia estar animada com a partida.
Sem alguém de ofício para marcar Pedro Augusto, o jogador mostrou porque mais tarde seria premiado com o troféu de atleta destaque da competição. Na partida, ele anotou 18 pontos, além de dar cinco assistências para seus companheiros e pegar quatro rebotes, contribuindo com a vitória de 63 a 41.
A conquista do bronze marcou um recorde para a Moca que, pela primeira vez, alcançou um lugar no pódio da competição. Esse fato inédito ficou marcado nas palavras de Pedro após a partida e revelou uma responsável diferente para a conquista.
“A gente veio na expectativa de conquistar o primeiro lugar, mas, ontem, fizemos um jogo muito abaixo do esperado, e a Educa foi melhor que a gente. Eu fui até embora [para Monte Carmelo] e não queria vir para a disputa de terceiro lugar. Mas a minha namorada falou: ‘Vamos lá, a gente vai conquistar o terceiro lugar’. A Educa e a Engenharia sempre vem chegando Já a Moca é o primeiro ano de pódio. Espero que seja o primeiro de muitos e minha namorada estava na torcida, sempre dando aquela força maior pra poder estar conquistando os resultados dentro de quadra”.
FINAL - 13h
“Se for pra gente pegar a Educa na final novamente, a gente vai estar lutando para fazer com que o resultado final seja diferente do ano passado”, disse Alessandro Gabriel após o jogo das oitavas de final da Olimpíada de 2023.
As duas equipes entraram em quadra com os mesmos jogadores da semifinal. De um lado, a Engenharia foi com Pascoal José, Vinicius Moura, Rodrigo Almeida, Alessandro Gabriel e Enrico Soares. Pelo outro lado, a Educa entrou com Marcelo Augusto, Rafael Mountran, Alexandre Rafael, Thiago Sobon, Pedro Isaac e “até o mascote da atlética”. Um cachorro invadiu a quadra, mas como não estava inscrito pela Educa, o “cachorrinho” teve que ser retirado do G6. Mesmo assim, o animal recebeu o carinho da torcida dos dois lados.
Já em relação à final da última edição, as formações de Engenharia UDI e Educa foram bem parecidas, com apenas uma modificação para cada lado. Mas com o mesmo foco.
A Atlética do Leão não podia perder sua terceira final consecutiva, ainda mais para seu maior rival, e assim fez. Começou o jogo igual o ano passado dominando as ações ofensivas e ditando o ritmo jogando.
Com a bola na mão, Alessandro, mais uma vez, mostrou porque é um dos jogadores com mais títulos que a Engenharia já teve. Dos 21 pontos que a equipe marcou no primeiro quarto, nove foram dele.
A marcação da Engenharia na quadra de defesa da Educa não deixava os donos da casa pensarem nas jogadas. Mesmo assim, no segundo quarto, o técnico da Atlética do Cachorro Aran Silva conseguiu ajeitar a equipe. Depois disso, aparentava que o roteiro de 2022 seria repetido.
A Engenharia até conseguiu inibir a qualidade ofensiva de Thiago Sobon, mas nãodos demais jogadores, que brilharam na falta do destaque. As principais jogadas vieram do pivô Pedro Isaac, que foi algumas vezes à linha de lance livre e terminou a partida com 16 pontos. E mesmo a Educa tendo feito quase a mesma quantidade de pontos que o ano passado, sofreu quase 20 pontos a mais.
No terceiro e quarto quarto, Alessandro continuou anotando pontos, pegando rebotes e dando assistências. O charangueiro terminou a final com um duplo-duplo de 28 pontos e 12 rebotes, além de quatro assistências e um bloqueio, ou seja, maior pontuador, maior reboteiro e maior assistente da partida. E se o jogador, no ano passado, desperdiçou os lances livres que poderiam dar o título a Engenharia, nessa decisão ele converteu nove das quinze chances que teve.
A boa atuação da Engenharia fez com que a comemoração iniciasse antes mesmo da partida acabar. Faltando 20 segundos e com uma vantagem de 20 pontos para a Engenharia, o técnico da Educa sinalizou ao treinador adversário que poderiam encerrar a partida. Com isso, os jogadores e os torcedores de sangue preto e amarelo começaram a comemorar e gritar: “É campeão”.
Após o apito final, Alessandro Gabriel falou sobre ser nomeado o melhor jogador da final e a superação de ter ganho a Olimpíada depois de duas derrotas nas finais.
“Ano passado, a gente pensou que estávamos muito preparados e ainda assim não deu certo. Mantivemos o foco e o comprometimento. Funcionamos hoje por conta do conjunto, todo mundo que entrou deu o seu melhor. Por mais que eu tenha feito muitos pontos, muitas assistências, muitos rebotes, eu não teria ganhado esse jogo sozinho, porque a gente viu esse resultado ano passado e não foi o suficiente”
“Eu tenho muitos amigos na Educa, mas a gente sabe que quando entra dentro das quatro linhas todos querem ganhar, a gente joga limpo. As duas equipes, por chegarem em duas finais seguidas, mostram que tem uma continuidade, tem uma constância. E foram dois bons jogos, duas boas finais. Eu tenho muito respeito pela outra atlética. E parabenizo muito a minha atlética porque só a gente sabe o que teve que passar durante todos os outros meses até chegar nesse dia de hoje”, completou Alessandro Gabriel, atleta da Engenharia UDI.
O título era o último que faltava a Alessandro. Nos cinco anos que jogou pela Engenharia, ele ganhou tudo que podia pela atlética. Agora, o jogador pretende dar um tempo do esporte, mas deixou claro a emoção de ter finalizado sua passagem com mais uma conquista. “Deus me coroou com essa saideira. Era o último título que me faltava. Consegui três CIAs, ganhei Engenharíadas e era só a Olimpíada que batia na trave, mas finalizei toda essa história com chave de ouro. Eu tenho muito orgulho de falar que eu entreguei tudo que eu tinha pra Engenharia, e, enfim, fui gratificado. Então, foi um um ‘tchauzinho’ com gosto de vitória”
Horas antes, o time feminino de basquete da Engenharia também foi campeã da Olimpíada UFU, e o treinador Edicarlos Machado, que treina as duas equipes, comentou como foi o grande dia da Engenharia no basquete e a preparação específica de todo o ciclo para enfrentar a Educa na final do masculino.
“O feminino nós sabíamos que ia ser muito difícil. Tínhamos um jogo na semifinal contra a Exatas que elas eram as francas favoritas. A gente conseguiu acertar hoje. Já aqui no masculino, estava engasgado do ano passado. Nós fizemos um semestre treinando especificamente para esse momento, mas em momento algum com arrogância. A gente sabia que o time da Educa era muito competente, que eles iriam chegar na final, e a gente não tinha dúvida que nós iríamos chegar também. Fizemos uma marcação impecável, conseguimos ganhar um jogo de vinte pontos da Educa. Então assim, a gente está muito feliz”, afirmou o treinador.
Questionado ainda sobre a perda de Alessandro para o próximo ano, Edi se mostrou tranquilo em relação às peças que mantém. ”O Alessandro é um cara que merece muito. Eu acho que não teria outra pessoa a não ser ele, um cara muito muito profissional, treina muito, para receber o prêmio (de melhor jogador da final). Tinha que ser pra ele mesmo. E o grupo da Engenharia, apesar do Alessandro ser o melhor jogador, é muito forte. A gente, com certeza, vai trabalhar para repor essa peça dele para que a gente possa manter essa hegemonia. Mas, com certeza, o Alessandro faz falta tanto na Engenharia, como no time da UFU”.
Premiação
Campeã: A.A.A. Engenharia UDI
2° lugar: A.A.A. Educação Física
3° lugar: A.A.A. Moca
4° lugar: A.A.A. Exatas
5° lugar: A.A.A Medicina
6° lugar: A.A.A Fisioterapia
7° lugar: A.A.A Monetária
8° lugar: A.A.A Humanas
Melhor Jogador da Competição - Pedro Augusto Souza Silva (Moca)
Melhor Jogador da Final - Alessandro Gabriel (Engenharia UDI)
Time do torneio:
1 - Rafael Gumerato Moutran (Educação Física)
2 - Jhonatan Alves Silva (Exatas)
3 - Pedro Augusto Souza Silva (Moca)
4 - Thiago Sobon Leal (Educação Física)
5 - Alessandro Gabriel (Engenharia UDI)
Cestinha do campeonato:
Jhonatan Alves Silva (Exatas): Média de 25,8 pontos por jogo
Outros destaques:
José Romero Neto Junior (Moca)
Jhonatha Ferreira de Abreu (Exatas)
Pedro Isaac do Nascimento (Educação Física)
Pascoal José Gaspar Neto (Engenharia UDI)
Resultados do dia:
Final: Educação Física 51 x 71 Engenharia UDI
3° lugar: Exatas 41 x 63 Moca
Semifinais:
Engenharia 49 x 36 Exatas
Educa 58 x 38 Moca
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