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“A Ufuteria não veio para dividir, veio para somar”

  • Foto do escritor: Arquibancada UFU
    Arquibancada UFU
  • 20 de fev.
  • 9 min de leitura

Atualizado: 10 de mar.

Como a bateria superou a desconfiança inicial, se consolidando no ambiente universitário da UFU e representando Minas Gerais no cenário nacional


Por Mateus Batista


“De forma coletiva, transformamos nossos sonhos, que um dia chamaram de maluquice, em realidade”, conta Pedro “Foguete”, um dos fundadores da bateria | Foto: acervo pessoal


As baterias universitárias são um dos elementos mais presentes no esporte da UFU. Especialmente após a última Olimpíada UFU, onde elas estiveram presentes em algumas praças esportivas, as baterias foram muito elogiadas pelos atletas e torcedores pelo modo como incentivavam suas atléticas, e a expectativa para essa participação das baterias em futuras Olimpíadas UFU e competições da universidade cresceu.


São três entidades que fazem parte do esporte universitário na UFU: atléticas, baterias e equipes de cheer. Cada entidade tem o seu próprio jeito de organização, então algumas são mais unidas, com algumas atléticas até tendo diretores de cheer e bateria na gestão da própria atlética, enquanto outras são mais separadas, porém ainda realizam reuniões de alinhamento para caminharem juntas, mas cada uma com seu objetivo próprio.


Porém, a Ufuteria é um caso particular. Por ser uma bateria de campus, ela é “solitária”, por não estar ligada a nenhuma atlética. Em compensação, ela conta com todas as outras baterias. “Muitos acham que é uma seleção e que a gente passa como olheiros nos ensaios, mas a Ufuteria não é para os melhores, e sim para os que mais gostam. Para você se dedicar a uma bateria, você precisa dedicar muito tempo e estudar muito, imagina para duas então?!”, conta Bia Marque, estudante de Pedagogia e presidente da Ufuteria.


Aprofundando no universo das baterias


Mesmo com os desafios em jogos de atléticas, as baterias possuem competições próprias. Bia também ressaltou que a UFU conquistou muito espaço no cenário nacional com os resultados dos últimos anos em competições como Taça das Baterias Universitárias (TABU), Balatucada e Interbatuc.


Na parte musical, o principal ritmo é o samba, mas também há a presença de diversos outros ritmos diferentes, como maracatu, reggae, axé, dentre outros. Essa mescla de ritmos é um critério em diversas competições, chamado de versatilidade. Além dos ritmos, também podem entrar desenhos diferentes, com homenagens a figuras famosas da música, como Lady Gaga e Michael Jackson, ou a movimentos culturais, como o Congado.


Os instrumentos utilizados são separados em categorias, e cada um tem a sua função. Aqueles que trazem o “molho” do samba, ou seja, que sustentam o ritmo e são a base da música, são chamados de cozinha. Exemplos de instrumentos da cozinha são o surdo, a caixa e o repique. Já os instrumentos de front trazem a identidade de cada bateria junto com a dança, como tamborim, chocalho, agogô e cuíca.


A fundação


A Ufuteria completará oito anos em 2025 | Foto: acervo pessoal


Pedro Henrique “Foguete”, cujo apelido vem da capoeira, ingressou na UFU em 2014, para o curso de Sistemas de Informação, e já havia atuado na criação da Computaria, bateria ligada à Atlética da Computação. A Ufuteria surgiu a partir da conversa dele e de outros presidentes de baterias em setembro de 2017, após eventos que aconteceram na região, como o Batuca Minas. De acordo com Foguete, a bateria nasceu oficialmente em março de 2018, com a conquista da vaga para a Taça das Baterias Universitárias (TABU).


Os primeiros convites para a organização da Ufuteria foram feitos para algumas baterias com as quais o estudante formado em SI tinha mais afinidade, segundo ele. Depois disso, outras seis reuniões foram realizadas, com convites para as demais baterias dos campi Santa Mônica e Umuarama. Dentre as convidadas, Charanga e Medonha responderam que não tinham interesse em se juntar ao processo de criação da Ufuteria, de acordo com Foguete.


Apesar dos convites e da expectativa inicial, o início não foi tranquilo. “O cenário era muito fechado na época, as baterias não se falavam. Há muitos anos, havia um clima forte de rivalidade. Por exemplo, a Charanga, uma bateria mais velha, disputava com a Dentadura, que tinha vencido o desafio de baterias do DCE na época. Outras baterias, como Mercenária e Computaria, estavam surgindo ainda”, conta Foguete.


Essa rivalidade foi um empecilho inicial grande para a nova bateria da universidade, como apontou Foguete. Nos ensaios iniciais, as pessoas ficavam divididas entre os grupos de cada bateria, e o tempo era escasso. “Por conta do tempo, é muito difícil fazer com que as pessoas se dediquem à uma bateria, imagina para duas. Perto de competições, as baterias ensaiam quase todos os dias da semana”, de acordo com o estudante formado em SI. Outro desafio apontado por Foguete foi a falta de instrumentos.


Mas o principal desafio da Ufuteria nos primeiros anos foi a desconfiança e falta de apoio geral. Foguete relatou que as atléticas eram abertamente contrárias à criação da Ufuteria. “Soltaram várias notas na época, porque acreditavam que a Ufuteria iria juntar os melhores e acabar com os movimentos das baterias de curso”, completou, apontando que ele argumentou que essa afirmação não fazia sentido, comparando a Ufuteria com os times da UFU para a disputa de jogos universitários.


A presidente Bia Marque apontou que, geralmente, quem frequenta a Ufuteria já faz parte das outras baterias, pelo fato dos marinheiros disputarem campeonatos de nível mais alto. Além disso, a Ufuteria não faz escolinha, onde as baterias ensinam os princípios básicos, para não bater de frente com a iniciativa das baterias de curso. “A gente não ensina do zero, e quem entra aqui já tem uma determinada noção”, completou.


“Eu entendo o medo que tiveram, mas foi uma grande dificuldade. No começo, as pessoas que vinham para a Ufuteria eram mal-olhadas em suas baterias e atléticas, meio que pelo receio de que eles iriam acabar com o movimento de bateria. ‘Lá vai ser a panelinha e aqui vai ser o resto’”, destacou Foguete.


Superando os desafios e campeonatos


“Já nos chamaram até de ‘bateria de catadão’”, como conta Bia Marque, atual presidente da Ufuteria | Foto: acervo pessoal


Os desafios foram superados de maneira orgânica, de acordo com Foguete. A bateria queria tocar no Batu Bloco de 2017 e até recebeu um convite, mas não fazia sentido que os ensaios fossem feitos de maneira individual. Então, a sugestão foi simples: a junção dos ensaios para todos, por conta do maior volume de instrumentos e de ter um som melhor. “De forma direta, foi quando a Ufuteria começou de verdade. A grande base da Ufuteria para os próximos anos foi justamente o pessoal que estava junto nesses ensaios”, completou.


Com essa viagem para São Paulo, aos poucos, a bateria foi conquistando a confiança das pessoas da faculdade. A partir daí, a Ufuteria só cresceu, tocando em outras competições e acumulando conquistas.


A sensação de um campeonato de baterias é maravilhosa, de acordo com Bia Marque, estudante de Pedagogia e atual presidente da Ufuteria. Ela também apontou que o foco da Ufuteria não é na disputa dos desafios de bateria que estão presentes em jogos de atléticas, mas sim em campeonatos especificamente voltados para as baterias, onde elas são mais valorizadas.


“Na bateria, 99% delas são muito unidas e torcem muito pelas outras. Você vê mesmo em campeonatos dentro da UFU, a maioria vai estar no front torcendo, chorando e se emocionando pelas outras baterias”, contou Bia, que entrou na Ufuteria em 2022.


A Ufuteria tocou na terceira divisão do Batucada de 2019 e, após a pandemia, conquistou o segundo lugar no Interbatuc, competindo com mais de 20 outras baterias. Essa conquista não simbolizou apenas a primeira bateria da UFU a alcançar o pódio na competição, mas sim a primeira fora do estado de São Paulo a realizar tal façanha, e a segunda fora da cidade de São Paulo com a conquista, ao lado da Ufscar.


Após o pódio no Interbatuc, a Ufuteria também conquistou dois acessos consecutivos no Batucada, em 2022 e 2023, e em 2024 foi a primeira bateria da história do estado de Minas Gerais a chegar na divisão principal do campeonato, e apenas a quarta fora do estado de São Paulo. O objetivo de se manter na primeira divisão também foi mantido, e em 2025, a Ufuteria estará novamente ao lado das principais baterias universitárias do Brasil.


“A gente conseguiu ajudar um pouquinho a mostrar que Minas também tem seu som, com a nossa cara. Colocar o Congado foi bastante simbólico”, finalizou Foguete. Bia também comentou que foi muito emocionante levar o Congado e a cultura mineira para o palco do Balatucada.


O tamanho das conquistas


Ufuteria foi a terceira colocada da Pré-Seletiva de 2022 e conquistou o segundo lugar da Seletiva em 2023 | Foto: Organização Balatucada (divulgação)


Representar Minas Gerais no cenário nacional não é uma tarefa fácil, ainda mais em uma área onde as baterias paulistas possuem mais estrutura, incentivo e instrumentos, além do acesso à algumas das principais escolas de samba do Brasil. É o que conta a presidente Bia Marque, que já tocava em uma escola de samba de Rio Claro (SP) antes de passar na UFU. Ao entrar no curso de Pedagogia, ela entrou na bateria Predadora, e depois ingressou na Ufuteria.


“Eu morria de vergonha! Eu escuto isso de muita gente e eu tinha o pensamento de ‘eles sabem muito! Eles estão muito acima do nosso nível, que medo!’. Então, eu morria de medo de aparecer no ensaio da Ufuteria, porque pensava que eles são muito acima do nível que eu toco, mas não é isso!”, conta a estudante de Pedagogia.


Ela foi ritmista da Ufuteria em competições pela primeira vez no Balatucada de 2022, na Pré-Seletiva (uma espécie de terceira divisão). A bateria da UFU conquistou o acesso na terceira posição, mas por um erro da organização na planilha, o resultado real era a segunda posição. Na Seletiva 2023, a atual presidente viu o acesso para a Divisão Principal de casa, por conta de ter feito uma cirurgia, e contou que se emocionou muito.


A união dos membros, consolidada após os problemas iniciais, foi vista também em 2022, mas no Interbatuc. Bia destacou que, por um problema de regulamento, se algum ritmista tocasse na TABU, ele não poderia participar do Balatucada. Algumas pessoas, incluindo uma das responsáveis pela fundação, se encaixavam nisso, mas por terem atuado em outras baterias. “A organização não entendeu que nós somos uma bateria de campus, e disseram que a gente seria desclassificado se essas pessoas subissem no palco”, completou.


“Então, tivemos que fazer uma escolha: ou a gente toca com os ritmistas e é desclassificado, ou sobe no palco sem eles. Mas a gente não pensou em classificação em hora nenhuma, até porque a Ufuteria é sobre isso: união e integração”, destacou.


O desfecho foi digno de roteiro de cinema, como conta Bia. A Ufuteria subiu no palco já sabendo da desclassificação, e ainda enfrentou o desdém de outras baterias, já que os marinheiros não eram favoritos ao título. “A gente se entregou tanto e fizemos uma apresentação linda. No fim do campeonato, não anunciaram nosso nome pela desclassificação, mas os jurados não sabiam e avaliaram a gente normalmente. Três dias depois, saiu a colocação com a nossa nota, e a gente ficou em segundo lugar de pontuação”, completou.


Os desafios atuais


“Não temos dinheiro para ter instrumento bom. A gente custa ter, e ainda pegamos instrumentos emprestado com as outras baterias da UFU”, contou Bia | Foto: acervo pessoal


Mesmo superando a desconfiança inicial e a falta de proximidade dos membros no início, a Ufuteria ainda precisa batalhar pelo seu espaço dentro da universidade, já que a UFU não disponibiliza um estúdio próprio para ensaios, o que é inseguro para os ritmistas, como contou Bia. “A gente não tem lugar para ensaiar. Eles disponibilizam um dia no Campus Glória, mas a gente já ensaiou na frente da prefeitura, já teve ritmista que sofreu assédio, assalto, agressão. Quem toca no Balatucada tem estúdio próprio para ensaiar, e a gente tem estúdio aqui na universidade, mas não podemos usar!”, frisou.


Outro fator que dificulta a vida da Ufuteria é a falta de recursos e de instrumentos novos de alta qualidade. Bia relatou que, durante uma competição, um dos principais jurados nacionais que estava apenas acompanhando o campeonato, comentou que, “se a Ufuteria tocasse naquele nível, mas com os instrumentos das outras baterias, a equipe estaria algumas posições acima”.


Impacto


A Ufuteria geralmente ensaia aos sábados no campus Glória | Foto: acervo pessoal


O impacto da Ufuteria é sentido em toda a UFU, mas também em baterias de todo o estado de Minas Gerais. “Falando agora como membro da Predadora, a gente só chegou aonde chegou porque começamos a frequentar a Ufuteria. Antes, a gente não vinha de boas campanhas, mas agora ficamos em segundo lugar no Batuca Franca, e pegamos um quinto lugar na TABU”, destacou Bia.


Baterias de todo o estado também entram em contato com a Ufuteria para elogios e exaltações, devido à representatividade que ela traz. Em um cenário onde São Paulo e Rio de Janeiro são os reis, ter um representante levando a cultura mineira para o Brasil todo, como no caso do Congado.


“O legado que eu vejo hoje é um sentimento de gratidão. São 10 anos desde que entrei na faculdade, e consegui, junto dos meninos, realizar todos os sonhos que algum dia tivemos com baterias”, finalizou Foguete.





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