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“A bateria é um estado de espírito que transcende gerações”

  • Foto do escritor: Arquibancada UFU
    Arquibancada UFU
  • 20 de mar.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 31 de mar.

Com mais de cinco décadas de história, trajetória da Charanga segue envolta de música e tradição


Por: Maria Eduarda Amorim


Atualmente, a Charanga é penta Campeã do Desafio de Baterias da CIA | Foto: Maria Eduarda Amorim


Criada em 1969, a Charanga, bateria universitária associada aos cursos de Engenharia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), surgiu sem grandes pretensões. Era apenas um grupo de amigos com o desejo de fazer barulho na torcida de alguns jogos esportivos que aconteciam contra os diferentes cursos da instituição. Mas, no fim, o barulho se tornou música, e o grupo de amigos virou a primeira bateria universitária do Brasil.


São 55 anos de história. Um legado construído entre risos, choros, baquetas quebradas e repiques estourados. O atual vice-presidente da Charanga e estudante de Engenharia Mecatrônica, Maicon Augusto Silva, comenta que a bateria é um estado de espírito que transcende gerações. Além disso, para o grupo, cada batuque é importante, já que, no geral, a bateria universitária auxilia a manter vivas tradições musicais como o samba, o pagode e outros ritmos percussivos, além de oferecer ao estudante um senso de pertencimento dentro da universidade.


“Ele tá até hoje e ele vai continuar para sempre também”


Com o surgimento da bateria, foram criadas tradições que perduram até os dias de hoje. O uso do preto e amarelo, cores que representam a Charanga e a Atlética da Engenharia, é uma delas. O conjunto de tons está por toda parte: nas camisetas, nos instrumentos, nas bandeiras e até mesmo na sede do grupo. De acordo com Gustavo Silva Ferreira, estudante de Engenharia Mecânica e atual presidente da bateria, as cores foram escolhidas porque, antigamente, era a tinta mais barata que havia, e eles precisavam se identificar, já que havia muitas brigas nas arquibancadas durante os jogos. Assim, o preto, o amarelo e o caju – típica bebida  encontrada nos eventos da bateria – têm sua origem na Charanga.


“No começo, tomavam cachaça pura, que era a coisa mais barata que tinha para ficar bêbado, para ficar tonto, até que começaram a misturar com algo que também era barato. No caso, era o suco concentrado de caju. O caju está presente desde sempre, ele tá até hoje e vai continuar para sempre também”, acrescentou Gustavo.


“A atlética está sempre cuidando do esportivo e também do lado social com campanhas e eventos, e a Charanga com todo o restante do rolê, com a torcida, com as bandeiras, toda a festa que você vê na arquibancada e fora dela também, é a Charanga que tá lá” explicou  Gustavo | Foto: Maria Eduarda Amorim


Com o tempo, novas tradições também foram criadas, como o “Reencontrão”, evento realizado pela primeira vez em 2015, que celebrou os 45 anos da Charanga. Ele foi idealizado por ex-membros, com o objetivo de reunir pessoas que passaram pela bateria para entender sua história por meio de antigos ritmistas e diretores, e não deixar que ela se perca com o passar do tempo. Desde então, a cada cinco anos, o Reencontrão acontece como forma de celebrar a existência da nação preto e amarelo.


Para Thelmo Dias, ex-integrante da diretoria da Charanga, uma história marcante do reencontro foi a do Honda. Um grupo de charangueiros, ao tentar encontrar o maior número de pessoas que passaram pela Charanga, acabou descobrindo um ex-membro, apelidado de Honda, que era japonês e deixou sua marca na bateria na época em que fez parte. Então, esse grupo conseguiu encontrá-lo e convencê-lo a vir do Japão para o Brasil para o reencontro da Charanga.


“E o reencontro se tornou isso: um momento em que, depois de muitos e muitos anos, essas pessoas, que nunca deixam de ser charangueiros, têm a oportunidade de viver um fim de semana de Charanga novamente, de reencontrar aqueles amigos, aquelas pessoas que compartilharam memórias, histórias e sonhos”, completa Thelmo.


“Esse amor que a gente tem, torna a gente uma família” 


Os integrantes da bateria se intitulam como “família preto e amarelo”, já que, com o tempo passado juntos durante os ensaios, as apresentações e as competições, laços são criados e relações estabelecidas. Além da música, são as pessoas que fazem a Charanga ser o que é. A existência da bateria por mais de cinco décadas se deve às pessoas que carregaram seu legado para que ele não se perdesse.


“Aqui é um local onde todas as pessoas estão vivendo aquele mesmo momento da universidade, muitas vezes estão distantes de casa, e aqui é onde a gente se encontra. São pessoas diferentes, com sonhos diferentes, interesses diferentes, mas a gente se encontra em um ambiente comum, de um interesse comum e uma paixão comum pela Charanga, pela Engenharia. Então, esse sentimento, esse amor que a gente tem, torna a gente uma família", comenta Thelmo.


A diretoria da Charanga é composta por  presidente,  vice-presidente,  diretor financeiro, mestre,  diretor de marketing e produtos, dentre outros | Foto: Maria Eduarda Amorim


E não é apenas uma família que se forma, mas também amores, como no caso do integrante da bateria e estudante de Engenharia Química, Iroann Martins, que conheceu sua namorada por conta dos batuqueiros preto e amarelo. De acordo com ele, antes de terem amor um pelo outro, eles tiveram amor pela Engenharia, uma das coisas que os uniu.


Como grande parte das baterias, a Charanga é uma instituição sem fins lucrativos, mas, para o atual presidente, o crescimento pessoal e as amizades feitas dentro do grupo são um incentivo mais que suficiente.


“Quarta-feira é o nosso dia sagrado” 


Os ensaios abertos acontecem toda quarta-feira, às 19h, no estacionamento da reitoria. Neles, tocam diferentes estilos musicais, cantam seus hinos e também é quando ocorre a escolinha, onde pessoas que possuem interesse em participar da bateria podem aprender a usar instrumentos como chocalho, repique, tamborim, surdo de marcação, entre outros. Os professores são os próprios ritmistas da Charanga.


Já nas segundas-feiras, acontecem os ensaios voltados para as competições, focados nas técnicas e nas performances. Quanto mais perto da disputa, mais intensos os ensaios se tornam. Atualmente, a bateria disputa apenas a Copa Inter Atléticas (CIA) e, para se preparar, pratica todos os dias durante os dois meses anteriores ao evento esportivo.



A sede da bateria fica ao lado do bloco 1B e, normalmente, é ali que acontece a concentração antes dos ensaios abertos | Foto: Maria Eduarda Amorim


"Quarta-feira é o nosso dia sagrado, e as pessoas que mais se destacam nesse ensaio de quarta-feira são convidadas para o ensaio de segunda-feira. E nesse ensaio de segunda, é um ensaio mais técnico, um ensaio para o desafio de bateria. Na quarta-feira, não. Na quarta-feira, há anos e anos, a gente toca exatamente a mesma coisa, os mesmos toques, é um roteiro exatamente igual”, explica Thelmo.


No começo, o único objetivo da Charanga era estar presente nas arquibancadas torcendo por seu time, mas, por volta de 2008, eles entraram no mundo das competições de baterias universitárias. Desde então, já passaram por diversos campeonatos, como o Interbatuc e o BatucaMinas. Porém, Gustavo reitera que o principal objetivo da bateria não é competir, mas sim torcer. A prioridade sempre será estar presente nas arquibancadas fazendo música o mais alto que conseguirem.


“Uma vez, a Lorraine Faria, que é atleta, virou e falou: ‘Todos os troféus que a gente tem ali na atlética não são só da atlética, não são só dos atletas. É 50% da Charanga, porque sem a Charanga não tem torcida’. Então, a gente está movimentando a arquibancada. Por isso, é tão gratificante para a gente, como Charanga, também comemorar tudo da Atlética, tudo da Sexy Lions, por exemplo”, adiciona a ritmista e estudante de Engenharia Mecatrônica, Pâmella Caley.


Atualmente, a Charanga é penta Campeã do Desafio de Baterias da CIA | Foto: Maria Eduarda Amorim


Para Thelmo, quem passa pela Charanga, nunca deixa de ser charangueiro, é um amor que vai além dos tempos de universidade. Para se tornar charangueiro, não existe processo seletivo. É só comparecer aos ensaios abertos com frequência e demonstrar interesse em participar da bateria. Alunos de qualquer curso da Engenharia podem participar da escolinha e não é preciso ter experiência prévia em nenhum instrumento. Para eventuais dúvidas, é só entrar em contato com o Instagram da Charanga. 

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